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SESMT – SOBREVIVENDO ADIANTE DA LEI



Cosmo Palasio de Moraes Júnior
Técnico de Segurança do Trabalho
e-mail:
cpalasio@uol.com.br

Depois de 15 anos de SESMT, assusta-me notar que apesar da essencial importância de nossas atividades, muitas empresas com certeza deixariam de ter SESMT se a NR 4 fosse revogada. Tal quadro mostra-nos que ao longo de todos estes anos não soubemos consolidar a importância de nossas atividades. Tal situação tem sua origem em uma série de fatores, os quais com certeza não serão levados em consideração pelos empregadores. Na verdade, durante um bom tempo a atuação na área de prevenção de acidentes esteve mais voltada para a presença de profissionais que chegaram a esta área não por vocação essencialmente dita, mas por reaproveitamentos e relocações de mão de obra. Quando surgiu a figura do Inspetor de Segurança, preocupados com o cumprimento da lei e mais ainda com a possibilidade de informações relativas as questões pertinentes a área ganharem âmbito externo as empresas, muitos empresários designaram para a função pessoas de sua extrema confiança e que não tinham, na grande maioria dos casos, qualquer vocação real para prevencionismo. Historicamente, com o passar do tempo, juntou-se a questão da segurança do trabalho a segurança do patrimônio e muitas destas histórias e resultados, que chegam a ser folclóricos, em alguns casos, são do conhecimento de nossa comunidade profissional. Tempos depois, já na figura do Supervisor de Segurança do Trabalho, muitos visualizaram um nicho de grandes oportunidades. Para ajudar na situação, existiam os famosos cursos de curta duração, muitos deles tocados por pessoas que jamais haviam pisado num chão de fábrica. Em meio a tudo isso, nosso reconhecimento a um pequeno grupo que sempre existiu e mais do que isso, insistiu em construir um modelo prevencionista em nosso pais, sendo que muitos destes, pagaram com o próprio emprego o desejo de fazer algo real pela segurança e saúde do trabalhador brasileiro.

 Aos trancos e barrancos chegamos até aqui. As muitas histórias do prevencionismo dariam para encher livros e mais livros. Se de um lado havia um profissional não vocacionado e mal preparado, do outro sempre houve um empresariado totalmente alheio as questões prevencionistas. Diante de situações complexas, enchiam-se os locais de trabalhos com cartazes engraçados, que pareciam fazer crer, que a questão do acidente e da saúde era cômica. Placas e faixas mostram nas portas de entrada dos locais de trabalho uma realidade desconhecida dos trabalhadores, uma evolução que raramente chegava ao chão de fábrica e que a verdade, mesmo que parcial, demonstra-se nos números dos horrores das estatísticas. De um lado as leis, de outro a inobservância, em meio a isso, operários sendo mutilados e mortos.. O profissional de segurança, acuado pela necessidade de sobrevivência, atuando como auxiliar de escritório, lavando o cachorro do patrão, sendo ridicularizado por sombras de chefias que existiam. Era o Pais que ia Prá Frente.....

 Penso que na verdade o SESMT no Brasil nunca esteve realmente de pé. Pelo esforço destes ou daquele profissional ou mesmo pela tradição das matrizes de algumas empresas, o pouco que se fez com certeza foi de essencial importância. O que não se conseguiu fazer faz parte da história de milhares de famílias que embora não saibam bem o que é prevenção de acidentes, sabem o que é a perda prematura de um ente querido.

Assim passamos ao longo da história, destes poucos anos de existência. Assim chegamos ao ano de 2000, num mundo que busca a globalização, com empresas que de toda forma supostamente tentam reduzir custos e diante de um estado que tentam curar câncer com aspirina, ou seja, tenta resolver as questões da previdência mexendo não com aqueles que a faliram , mas com os que sempre compulsoriamente pagaram suas contribuições. Em meio a tudo, existimos: Está lá na NR 4. No entanto, temos certeza de que isso não basta mais, que se no passado havia espaço para um grupo profissional resguardado por lei, no futuro, que já é agora, só haverá espaço para grupos técnicos capazes de agregarem valor. Diante desta tendência, fica claro que não há mais espaço para aquele SESMT que entende que prevenção de acidentes necessariamente implica em custos e nada mais, para aqueles profissionais que diante dos problemas, apontam a solução obvia e ocultam-se atrás dos relatórios feitos. Ficou para o ontem o tempo do SESMT policialesco, chegou a vez do SESMT Parceiro, SESMT Área de fato técnica, capacitada e capaz de identificar problemas, buscar soluções e agir politicamente para sua implementação. Não somos e nunca fomos fiscais de fábricas, somos Engenheiros, Técnicos, Médicos e Enfermeiros, formados e capazes de ingerir no processo.

 E agora ? Agora é o tempo de trazermos a tona nossa capacidade, de investirmos em um modo de gerenciamento nítido e claro, capaz de inserir o SESMT nos centros de decisões. Agora é o tempo de estarmos não somente no chão de fábrica, mas principalmente de nos tornarmos o elo de ligação e principalmente solução entre os problemas do chão de fábrica e as mesas de decisão. Sem esta postura, já somos totalmente desnecessários no sistema

 Trabalhar tecnicamente, esta é a expressão de ordem. Sair dos cantos, dos porões, da facilidade da omissão, para levar adiante o projeto prevencionista. Fácil ? Não, muito difícil, no entanto, este difícil tornasse aqui o sinônimo de sobrevivência e portanto, não se trata de uma questão de escolha. Para aqueles que se esconderam a sombra da lei e nada mais são do que arautos de NR, prevejo tempos difíceis. Aos que se dedicaram ao estudo, buscaram o intercâmbio e acreditaram em prevenção como algo real, acredito que estaremos diante de um tempo de muitas possibilidades.

 O que fazer ? O primeiro ponto essencial a esta questão e na verdade realizar parte de um Sistema de Gestão, ou seja, embrenhar-se numa auto diagnostico relativo a própria atuação. Diante da própria realidade, desenhar um modelo de correção. Isso pode Ter muitas faces, muitos lados, para cada caso Ter um desenho próprio e diferente. Como referência sugerimos abaixo alguns tópicos, que não precisam ser checados necessariamente na ordem apresentada, mas que com certeza servem como guia para a grande maioria dos profissionais .

 O primeiro tópico diz respeito a atualização. No mundo em que vivemos, onde é informação é moeda, o não saber ou o saber desatualizado é fatal. A evolução vivida nos últimos anos trouxe para dentro dos locais de trabalho uma série de situações e por conseqüência, riscos, para os quais nem mesmo dispomos de literatura. No entanto eles estão lá, lesionando pessoas e por conseqüência, atingindo os interesses da empresa. Não há qualquer possibilidade de atuação correta sem conhecimento técnico. Muitos tornam-se meros colocadores de EPI, outros nem mesmo conhecem o risco que tem dentro dos seus locais de trabalho. Portanto, a base da nova atuação tem como pilar o conhecimento atualizado e este conhecimento não deve estar limitado a questões de segurança e saúde; Verdade ! Precisamos conhecer sobre o negocio, sobre a necessidade de sobrevivência da empresa, sobre a visão, a missão e os objetivos da empresa. Estarmos isolados a questões de obrigatoriedade ou de obter recursos pura e simplesmente e cometer suicídio e não lograr qualquer tipo de êxito.

 O segundo tópico refere-se a busca de oportunidades.. Traduzindo isso quer dizer o seguinte: onde isso que eu sei fazer se aplica onde trabalho e pode trazer resultados ! Parece difícil romper com o modelo antigo, sair do aconchego da mera citação de que algo precisa fazer porque precisa ser feito e ponto final. Muito mais do que isso, distancia-nos da segurança e da rotina da prevenção obvia e leva-nos a busca de situações e soluções, ou seja, permite desenvolvimento, mas exige interesse. Deixamos assim de ficar esperando o cliente na porta e vamos em busca de clientes no chão de fábrica. Vamos vender nosso produto ! Vamos ser legítimos dentro dos sistema. Portanto, muna-se de conhecimento e saia atrás de oportunidades para aplica-lo.

 O terceiro tópico, embora parece anti-prevencionista, é de essencial valor. Ele diz: "Assuma riscos calculados", ou seja, deixe de ser uma vaca de presépio e construa sua história. Encare desafios ! Abandone hábitos de ocultar-se em todos os problemas e coloque-se como um empreendedor firme e com conhecimento o suficiente para enfrentar situações. Inove, crie, busque soluções jamais pensadas, fuja para longe dos paradigmas, estes velhos conhecidos e para os quais existem milhões de capacitados bem melhores do que nós. Venda seu produto com qualidade e inovação.

 O quarto tópico diz respeito a persistência, Não seja um marionete ! Menos ainda um barco a vela, a sabor do vento. Torne sua atuação, uma lancha bem equipada. E quando entender que seja necessário, enfrente as ondas ! Mantenha distancia do meramente possível, defina-se sempre para o desejável.. Eleja metas e objetivos, só podemos chegara algum lugar quando sabemos para onde queremos ir. Planeje seu trabalho e neste planejamento inclua acompanhamento de cada uma das coisas iniciadas. Persista na busca dos resultados e não atribua esta possibilidade de vitoria ou derrota a terceiros.

 O quinto tópico é também de suma importância, talvez seja ele a cobertura de todo estes outros apresentados, a roupagem e a forma de fazer chegar aos outros seus objetivos. Falamos de comunicação e neste caso, trata-se de uma estrela de muitas pontas. Comece pela habilidade, se não é um bom negociador, aprenda a ser o melhor possível e para que isso ocorra conheça bem todos os lados envolvidos em cada uma das situações em que estiver, estude os processos de relações antes de inserir-se. Tenha uma boa rede de contatos, sejam eles de caráter essencialmente técnico (especialistas, instituições sérias, etc.), sejam eles de caráter político ou meramente social. O profissional de segurança, tal como todos os demais profissionais não deve e nem pode ficar isolado. Além disso, estruture um plano de comunicação eficaz para cada uma de suas atividades, mas preste atenção: é preciso dizer na forma que as pessoas querem ouvir ! Se vai emitir relatórios para seus superiores, seja sucinto e claro e mostre sempre onde deseja chegar e porque deseja. Se vai dizer aos operários o que será feito, faça isso na linguagem deles, não tratando-os como idiotas que não são com coisinhas engraçadas, mas tratando a questão da forma e com foco correto. Assuntos mais complexos ou que podem ser motivo de conflito devem ser expostos pessoalmente, grupo a grupo, e se possível com apoio de outras áreas afins que possam ajudar. Diga as pessoas o que é o SESMT, o que faz, etc.

 Por fim, o sexto tópico, que na verdade, se observados todos os tópicos acima mencionados passa a ser uma mera conseqüência, carecendo talvez apenas de alguns retoques finais. O sexto tópico diz: Seja o homem da segurança e saúde ! Não tenha medo de chamar sobre si e de escrever na sua porta que você é um especialista. Traga o assunto para o seu dia a dia, para sua mesa, para sua responsabilidade. Entre no sistema e fique ! Você é a referencia para o assunto dentro da empresa e se alguém faz isso por você, algo está errado e seu emprego está em jogo. Traga os problemas e leve soluções, passe a Ter importância dentro do contexto ! Não seja o dono da verdade, não há um profissional ser absoluto numa área tão complexa como a nossa, mas seja o facilitador. Atenda a todos, busque na CIPA razões para seu trabalho, busque nas Engenharias parcerias que garantam projetos mais comprometidos com segurança e saúde. Não se oculte !

 Entendemos que este seja um bom começo, que poderá assegurar ao SESMT seu lugar dentro do contexto e muito mais do que isso, a cada profissional a realização naquilo que faz.. Nada do que mencionamos acima virá até as suas mãos gratuitamente. Muito, até para sua surpresa e diante de seu novo posicionamento, poderá ser mais fácil do que parece; Outras coisas, poderão levar tempo. De toda forma, passaremos de vez por todas a ser uma área respeitada, como sempre deveríamos Ter sido, mas que a história mostra, não ser bem assim.

 

 

Cosmo Palasio de Moraes Júnior

Técnico de Segurança do Trabalho

e-mail: cpalasio@uol.com.br

19/01/2000