APLICAÇÃO DO GERENCIAMENTO DE RISCOS PARA
TOMADA DE DECISÃO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Hudson de Velasco Mitrof
CTC - Laboratório de Qualidade, Segurança e Produtividade
Universidade Federal Fluminense
Cláudia do Rosário Vaz Morgado
Dep. Eng. de Produção - Universidade Federal Fluminense
R. Passo da Pátria, 156/ S. 329 - Prédio Velho - Niterói - RJ
Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas
Dep. Eng. Civil - Universidade Federal Fluminense
Fone: (021) 620 8080 R. 332 Fax: 717 6390
Abstract:
This paper aims to present a proposal for application to risk
management to reduce public loss with accidents. Show how some industrial
sectors has more impact than others in the Public Accounts, according to
official data. At last, suggestions of the public politics will be
presented to minimize the loss of government.
Key words: Industrial Risk; Public Politics; Risk management.
1. INTRODUÇÃO
A evolução dos indivíduos e das sociedades tem desenvolvido
novos sistemas e tecnologias que proporcionam notáveis
benefícios, mas que simultâneamente, fazem surgir novos riscos.
A dinâmica da investigação e aplicação industrial,
pressionada pela competência exigida por um mercado global,
imprime uma velocidade de geração de novas técnicas que
transcendem as atuais análises de riscos e exige a adoção
de medidas de proteção acordes com a importância de tais riscos.
2. GERÊNCIA DE RISCOS
O tratamento adequado dos riscos só pode ser dado com base num
conhecimento científico para uma tomada de decisão mais
acertada, pode se dizer que Gerência de Riscos é uma
ciência baseada em sólidos conceitos e formulações
estatísticas.
A determinação convencional de risco é o produto de
gravidade da consequência (C) de um evento pela sua probabilidade de
ocorrência (P). Uma forma típica de esquematizar a
função risco seria como mostra a Fig.1
(Clique na fig. 1 para voltar a este ponto!)
Na formulação de um mesmo risco, R pode ser dado por diferentes
combinações de P e C; por exemplo
P1.C1 = P2.C2.
Relativamente, analisando esta formulação, podemos ter riscos que
em determinados setores industriais se verificam com baixa severidade das
consequências e com altas probabilidades de ocorrência, como
é o caso da indústria da Construção Civil,
indústria eletro-mecânica e naval. Por outro lado, temos setores
onde os riscos envolvidos são de alta severidade das
consequências e de baixa probabilidade de ocorrência ou
frequência como as plantas químicas e petro-químicas,
para que se possa fazer um paralelo.
Nessa diferenciação se baseia parte desta pesquisa, ou seja, cruzar
informações quanto ao modelo teórico ora exposto e os dados
oficiais fornecidos pelo
Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e
Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA).
Os três enfoques - tecnológico, organizacional e gerencial
- estão intimamente interrelacionados dentro dos novos paradigmas
da segurança e do meio ambiente. Portanto, não podem ser tratados
separadamente, sendo mais importante atuar nas áreas de interface
entre eles.
A Gerência de Riscos é fortemente impactada por mudanças
tecnológicas e sociais. As mudanças sociais se manifestam dentro do
sistema produtivo através da cultura organizacional que influencia e
é influenciada pelo nível de riscos.
Figura 1
3. ANÁLISE DOS DADOS OFICIAIS
Tabela 1 - Índice de Acidentes de Trabalho urbano
registrados, por motivo
Classe de Acidentes | 1993 | % 1993 | 1994 | % 1994 |
Acidentes Típicos | 374.167 | 90,8 | 350.210 | 90,2 |
Acidentes devido à Doença do Trabalho | 15.417 | 3,7 | 15.270 | 3,9 |
Acidentes de Trajeto | 22.709 | 5,5 | 22.824 | 5,9 |
TOTAL | 412.293 | 100 | 388.304 | 100 |
Fonte: INSS, Divisão de Planejamento e Estudos Estratégicos.
Analisando os dados da tabela acima vemos que mais de 94% dos acidentes
( Acidentes típicos + Acidentes devido à doença do trabalho )
têm sua causa na atividade laboral, o que sugere a possibilidade de
controle e aprimoramento dos processos do trabalho visando uma
redução na taxa de acidentes.
O alto índice de acidentes aponta para a necessidade de um modelo
preventivo mais eficaz.
Tabela 2 - Índice de Acidentes de Trabalho urbano liquidados por
consequência
Consequências | 1993 | % 1993 | 1994 | % 1994 |
Óbitos | 3.110 | 0,9 | 3.129 | 1 |
Incapacidade Permanente | 16.895 | 4,8 | 5.962 | 2 |
Incapacidade Temporária | 332.498 | 94,3 | 307.939 | 97 |
TOTAL | 352.503 | 100 | 317.030 | 100 |
Fonte: INSS, Divisão de Planejamento e Estudos Estratégicos
Tabela 3 - Benefícios urbanos concedidos decorrentes de acidentes
de trabalho (R$)
Ano | Auxílios | Aposentadorias | Pensões | TOTAL |
1993 | 26.225,40 | 20.146,61 | 27.891,90 | 74.263,93 |
1994 | 22.708.494,04 | 569.435,47 | 832.855,16 | 24.110.784,67 |
Fonte: DATAPREV, Sistemas de Benefícios, Plano Tabular da COMQ.S.
Cerca de 3% a 4% do valor concedido por ano deverá continuar a ser
desembolçado acumulativamente. Ainda que a longo prazo os efeitos
vegetativos não sejam alarmantes, há de se notar que a maior
parcela dos benefícios são por consequência de
incapacidade temporária que advém, em 94% dos casos, de
acidentes típicos e doenças profissionais.
Por outro lado, os dados das empresas que participaram do concurso anual
de segurança do trabalho promovido pela ABPA
( Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes )
nos revela que existem poucos setores de atividades que são
responsáveis pelas maiores taxas de risco e, consequentemente,
pela maior parcela de benefícios concedidos pelo INSS.
Ainda que a amostra não se enquadre em nenhum modelo
estatístico para representar a realidade brasileira, ela nos
sugere tendências, na medida em que os dados sobre acidentes
são menos distorcidos pela participação voluntária
das empresas no concurso. Para mero exercício do modelo proposto,
analisou-se alguns setores industriais:
Tabela 4 - Atividades críticas em termos de taxas de risco
Atividades | T. Freq. (x10-6 ) | T. Grv. (x10-4 ) | T. Risco (x10-9 ) | Contribuição (%) |
Comércio Atacadista | 56,21 | 21,45 | 120,60 | 49,14 |
Indústria Construção | 7,39 | 23,27 | 17,20 | 7,00 |
Construção e Reparação | 9,62 | 12,33 | 11,90 | 4,85 |
Atividade Auxiliar | 19,89 | 5,92 | 11,80 | 4,80 |
Indústria Produtos Alimentares | 13,58 | 8,56 | 11,6 | 4,73 |
Comércio Varejista | 15,29 | 7,48 | 11,40 | 4,65 |
Geração e dist. de Energia Elétrica | 5,51 | 17,60 | 9,70 | 3,95 |
Fonte: ABPA
O concurso listou 42 atividades da economia brasileira sendo que destas,
apenas 7 atividades contribuem com 79,1% das taxas de riscos.
Sabemos através de pesquisa do INCA
( Insurance Company of North America ) realizada em 297 empresas que
existe uma relação crescente entre acidentes com lesões
graves, lesões leves, danos à propriedade e incidentes.
Com isso podemos especular que, se não houver nenhum tratamento
mais sério no que diz respeito a segurança no trabalho, as
lesões leves de hoje serão as lesões graves de
amanhã, já que a gravidade das conseqüências de
um acidente é meramente uma ocorrência fortuita ou casual.
Fonte: INCA
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
As medidas de prevenção dos riscos industriais podem envolver cinco
níveis de atuação: os níveis do
indivíduo/trabalhador, do posto de trabalho, do setor de trabalho,
da fábrica como um todo e do meio ambiente em geral.
Em todos esses níveis manifestam fatores de ordem
tecnológica e organizacional.
Qualquer uma das alterações, que interfira na política de
segurança das empresas requererá um novo modelo de gerenciamento,
principalmente uma nova base de dados e novos critérios de tomada
de decisão.
A recomendação principal diz respeito a um maior investimento e
incentivo em programas de gerência de riscos por parte do Governo,
visando uma maior conscientização da alta direção das
empresas brasileiras. A falta de um modelo prevencionista aliado ao
descumprimento das normas existentes sobressalta o duplo aspecto que reduz
o crescimento do país: um elevado gasto em benefícios
decorrentes de acidentes de trabalho por parte do governo e perda da
produtividade por parte das empresas devido aos custos de acidentes.
5. BIBLIOGRAFIA
[1] DE CICCO, Francesco M.G.A.F. & FANTAZZINI, Mario Luiz " Introdução à engenharia de segurança de sistemas ". 3 ed. São Paulo, FUNDACENTRO, 1993. 113p.
[2] FUNTOWICZ, S.O. and RAVETZ, J. "Three types of risk assessment: a methodological analysis ". Risk Analysis in the Private Sector, Plenum, New York, 1985.
[3] WYNNE, Brian "Risk assessment of technological systems - dimensions of uncertainty - chapter 9: Risk Management and Hazardous waste - implementation and dialeties of credibility. " springer - verlag, Berlin, 1992
[4] INSS Boletim estatístico de acidentes de trabalho, 1993. 1994.
[5] ABPA Revista Cruz Verde N° 62 , 1995
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