Trabalho realizado com o apoio do Departamento Intersindical de Estudos em Saúde e Ambientes de
Trabalho(DIESAT)
Autores
Roberto Carlos Ruiz
Mareci Moreira
Melissa Mascharetti
Midori Maria Izumida de Almeida
Sandra Petresco
Viviane Ruiz
RESUMO
Este trabalho surgiu a partir de uma ação em saúde do
trabalhador chamada "Campanha contra a Surdez Ocupacional", promovida em
parceria entre o Sindicato de Trabalhadores em Industrias de Papel e
Papelão de Sorocaba e região e o Núcleo de
Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e
região , e tinha como objetivo avaliar o estado da acuidade auditiva
dos trabalhadores das indústrias de papel , para em seguida , propor
mudanças que visassem a melhorar os ambientes de trabalho com
relação a presença do risco específico
( ruído industrial ) . A campanha durou três meses .
Foram realizadas 59 audiometrias no total , que foram precedidas pela
aplicação de um questionário . Os trabalhadores eram
provenientes de 5 fábricas de papel e papelão da cidade de
Sorocaba e região .
Na análise , verificou-se que apesar da portaria 3214 de 1978 do
Ministério do Trabalho estabelecer parâmetros que visem manter a
segurança no trabalho , não ocasionando assim doenças
em trabalhadores , a realidade é bastante diferente , sendo que
constatamos muitos casos de pessoas expostas ao ruído que são
portadoras de Perda Auditiva Induzida por Ruído , demonstrando assim
que os esforços demandados até o momento para controlar o
ruído industrial e sua conseqüência , a perda auditiva ,
tem sido ineficientes .
Autores
- Roberto Carlos Ruiz: Médico do Trabalho do Núcleo de Educação e
Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região
- Mareci Moreira: Fonoaudióloga
- Melissa Mascharetti: Aluna do 3o. ano da Faculdade de Medicina de Sorocaba - PUC
- Midori Maria Izumida de Almeida: Aluna do 3o. ano da Faculdade de Medicina de Sorocaba - PUC
- Sandra Petresco: Aluna do 3o. ano da Faculdade de Medicina de Sorocaba - PUC
- Viviane Ruiz: Aluna do 2o. ano da Faculdade de Medicina de Bragança Paulista - USF
INTRODUÇÃO
Tratar de um assunto como a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR)
pode parecer repetitivo , dado ao fato deste ser um tema já
amplamente debatido e conhecido entre os especialistas da área ,
conforme nos traz Kitamura e Costa ( 2 ) . O que nos deixa apreensivo ,
entretanto , é que , mesmo sendo este um tema de muito conhecimento
entre médicos do trabalho , engenheiros de segurança e
técnicos de higiene do trabalho , a existência de trabalhadores
portadores de tal moléstia ainda é uma constante em nosso
meio.
Por isto nosso interesse em estudar um pouco mais o assunto , verificando
a abrangência da patologia entre os trabalhadores de fábricas
de papel em Sorocaba e propor medidas que visem efetivamente melhorar esta
triste realidade.
Assim , a Norma Técnica sobre ruído industrial ( 4 )
refere que a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) , é uma
alteração dos limiares auditivos do tipo neurossensorial,
bilateral , decorrentes de exposição sistemática
a ruído ,que tem caráter crônico , com efeitos tardios ,
e por isto impede ou dificulta aos trabalhadores o estabelecimento de uma
relação de causa e efeito .
O limite de exposição ocupacional ao ruído segundo a
legislação nacional vigente , é de 85 decibéis
por oito horas de trabalho.
Segundo as normas que regem o assunto , o fornecimento do Equipamento de
Proteção Individual ( E.P.I. ) , que no caso seria o protetor
auricular , anularia o efeito da insalubridade sobre o organismo humano .
Entretanto , se realizarmos qualquer trabalho de campo para verificar se
o ruído existente nas fábricas pode estar lesando a
saúde dos trabalhadores , verificamos que o objetivo desta norma
citada não está atingindo seus objetivos , o qual é ,
evitar que os trabalhadores sejam portadores de deficiência auditiva
devida ao ruído industrial.
Para que tenhamos a possibilidade mínima de conseguirmos efetivar
um programa que detenha a ocorrência de PAIR , precisamos antes de
mais nada , conhecer um pouco do ruído e seus efeitos sobre a
saúde.
O ruído pode provocar lesões agudas caracterizadas como
acidentes de trabalho típicos, ou crônicas , representadas pela
surdez progressiva que desenvolve com o passar dos anos , e que é
causada pela exposição crônica a ruído de alta
intensidade , principalmente os de alta freqüência .
Para Pina Ribeiro e Lacaz ( 5 ) , os efeitos nocivos dependem da
continuidade do tempo de exposição tornando-se a
lesão auditiva irreversível e agravada , se não houver
redução ou eliminação da
exposição.
Estas perdas crônicas e irreversíveis são as chamadas Perdas
Auditivas Induzidas por Ruído . Diferentes categorias profissionais
nas indústrias brasileiras apresentaram ruídos que
alcançavam níveis acima de 80 db ( 98% ) entre 91 a 100db
em ( 59% ) ; e entre 101 a 115 db em ( 17% )
Pina Ribeiro e Lacaz ainda , o ruído intenso reduz a capacidade
de concentração , exigindo esforço e
atenção maiores . Segundo a Norma Estadual citada , esta
redução da capacidade de concentração pode levar
a um maior índice de acidentes de trabalho . Assim , além da
presença deste risco significar aumento dos índices de
Acidente de Trabalho , podem seguramente influenciar de maneira a
produtividade industrial .
Segundo as investigações de Santos e cols . ( 3 )
os ruídos de alta freqüência aumentam a irritabilidade
enquanto os de freqüência média provocam
distração e diminuem a concentração e os de
freqüência baixa podem causar enjôo e fadiga.
Freqüências altas são mais lesivas do que as graves , mas
são , em geral , de mais fácil controle .
O ruído intenso pode levar a uma série de
alterações como insônia , redução de capacidade
de coordenação motora , distúrbios de comportamento ,
alterações gastrintestinais , alterações da
visão e comprometimento cardio- circulatório. Há
inclusive relatos de aumento de casos de Hipertensão Arterial
associadas a PAIR . Em publicação de 1991 do DIESAT ,
Costa ( 1 ) verifica que o ruído pode trazer uma série de
alterações fisiológicas ao ser humano , inclusive sobre
a gestação .
Nas estatísticas dos órgãos oficiais
responsáveis por isto , as doenças profissionais como a PAIR,
têm pouca expressividade numérica , não só pela
deficiência do serviço de registro de doenças
ocupacionais , como pelo sistema de atendimento médico ou pela
rotatividade de mão-de-obra , principalmente quando comparado ao
número de acidentes de trabalho .
Nosso interesse pelo assunto nasceu da procura de
trabalhadores de Sorocaba e região ao nosso serviço ,
o Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores,
que apresentavam freqüentemente queixas de zumbido ou
diminuição da acuidade auditiva , aliada a constante
reclamação do excesso de ruído nas indústrias .
Foi feito um contato com o Departamento Intersindical de Estudos de
Saúde e Ambientes de Trabalho (DIESAT ) , que deu o apoio
necessário ao desenvolvimento deste trabalho .
MATERIAL E MÉTODO
Iniciou-se assim em junho de 1995 , a "Campanha contra
surdez ocupacional" , proposta para as categorias dos químicos ,
plásticos , abrasivos , farmacêuticos e papeleiros .
Assim, a campanha teve um caráter regional , uma vez que englobava
Sorocaba e região , e diversas categorias profissionais .
A divulgação foi através de jornal da cidade e no
folheto do sindicato dos Químicos e Papeleiros .
A duração da Campanha foi de 3 meses , e os
trabalhadores eram convidados a participar de testes audiométricos
aplicados por uma fonoaudióloga , e posteriormente analisadas em
conjunto com um médico do trabalho .
A campanha foi estruturada a partir do agendamento de dias fixos na semana , onde a fonoaudióloga dava um plantão em horários pré-deterrminados , e atendia aos trabalhadores que procuravam o Sindicato espontaneamente , para realizarem o exame de audiometria .
Os dados que usamos para este trabalho foram obtidos a partir de uma
entrevista com o trabalhador , que foi seguida da realização
da audiometria .
A partir dos dados coletados selecionamos os trabalhadores que eram
exclusivamente de empresas papeleiras , deixando as outras categorias como
químicos , plásticos , abrasivos e farmacêuticos de
lado .
A entrevista e a audiometria foram realizados por fonoaudióloga .
A realização da audiometria , obedeceu as
recomendações técnicas da Norma Técnica Estadual
sobre o diagnóstico de Perda Auditiva Induzida por Ruído .
Observou-se também as recomendações de Santos e Russo
( 6 ) no que toca ao cuidado na realização do exame
audiométrico . O aparelho usado para realização do
exame , foi o audiômetro de fabricação americana modelo
Maico MA 41 , devidamente calibrado .
Um total de 59 trabalhadores de indústrias de papel e papelão
procuraram o Sindicato para a realização das audiometrias .
O Sindicato de Sorocaba tem um total aproximado de 1500 trabalhadores
vinculados a esta entidade , que trabalham nas diversas fábricas de
papel e papelão da região .
Após a realização do exame , o trabalhador era
informado de que poderia pegar o resultado do mesmo em 15 dias ,
através de consulta médica específica para este fim ,
onde o médico do trabalho iria lhe passar o exame em mãos ,
seguido de todas as orientações sobre o resultado da
audiometria , que incluía um esclarecimento sobre a tabela de
Merluzzi , a condição de sua acuidade auditiva , e quais os
efeitos futuros de exposição a ruídos de altos
níveis .
No dia agendado da consulta , o médico do trabalho conferia o
questionário aplicado , anotava neste questionário o resultado
do exame audiométrico , dando ao paciente o original de sua
audiometria , explicando a ele o significado do resultado , conforme
já exposto .
A classificação adotada para avaliar os resultados de acuidade
auditiva encontrados , foi a de Franca Merluzzi , a qual entendemos que
é mais compatível com uma mentalidade preventiva em
saúde do trabalhador .
Para efeito de tratamento estatístico e epidemiológico deste
trabalho , usou-se o software chamado EPI INFO , versão 6.01 de
outubro de 1994 , que é um programa de domínio público,
confeccionado pela Organização Mundial de Saúde .
Terminado o trabalho de coleta de dados , que como foi enfatizado ,
incluiu o preenchimento de um questionário básico e a
realização de audiometria , resolvemos selecionar as seguintes
variáveis para este trabalho :
empresa de origem dos trabalhadores ,
classificação das audiometrias segundo a tabela de Merluzzi ,
sexo , setor de origem dos trabalhadores que realizaram audiometria ,
uso ou não de Equipamento de Proteção
Individual ( EPI ).
RESULTADOS
A variável "empresa de origem dos trabalhadores" , demonstrou que
a maior parte destes são da empresa MAPOL .
Isto é devido ao fato da mesma ser a maior empresa nas
indústrias de papel de Sorocaba e região .
Em outras empresas , como Sovel , houve uma procura pequena , havendo
também outras três pequenas fábricas da categoria onde
não houve nenhuma procura por parte dos trabalhadores .
Tab. I : Distribuição dos trabalhadores examinados
segundo a fabrica de origem .
EMPRESA | FREQÜENCIA | PERCENTAGEM |
KASSUGA | 4 | 6,8 |
MAPOL | 21 | 35,6 |
PAPELOK | 16 | 27,1 |
SOVEL | 1 | 1,7 |
VOTOCEL | 17 | 28,8 |
TOTAL | 59 | 100 |
Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de
Sorocaba e região ,1995.
A tabela II nos traz a classificação das audiometrias segundo
a tabela de Merluzzi analisadas separadamente por sexo .
Segundo esta tabela , classifica-se a função auditiva de cada
ouvido separadamente . Para efeito de demonstração dos
resultados , colocamos os resultados encontrados da seguinte forma :
o primeiro número se refere a acuidade auditiva segundo a
classificação de Merluzzi do ouvido direito , que
é seguido de um ponto e por último , a
classificação da acuidade auditiva segundo Merluzzi do
ouvido esquerdo . Desta forma , para efeito deste trabalho , as
audiometrias sem alterações ou chamadas normais ,
são classificadas da seguinte maneira : 0.0 . Sabemos
também que a referida classificação mostra que
alterações que vão de 1 a 5 se referem a perdas
auditivas exclusivamente induzidas por ruído . Já
o grau 6 , se refere a perda mista ( ruído e outra causa ) .
O grau 7 é perda auditiva que não por ruído .
Dados estes esclarecimentos , fica fácil avaliar a tabela II .
Tab. II Resultados de audiometria classificados através da
tabela de MERLUZZI, segundo o sexo
GRAU DE AUDIÇÃO | FEMININO | MASCULINO | TOTAL |
0,0 | 7 | 14 | 21 |
0,1 | 1 | 2 | 3 |
0,2 | 0 | 1 | 1 |
0,3 | 0 | 1 | 2 |
0,7 | 1 | 1 | 2 |
1,0 | 0 | 3 | 3 |
1,1 | 0 | 11 | 11 |
1,2 | 0 | 3 | 3 |
2,0 | 0 | 1 | 1 |
2,2 | 1 | 3 | 4 |
2,3 | 0 | 1 | 1 |
3,2 | 0 | 1 | 1 |
4,7 | 0 | 1 | 1 |
5,0 | 0 | 1 | 1 |
6,6 | 0 | 1 | 1 |
7,0 | 0 | 1 | 1 |
7,1 | 0 | 2 | 2 |
7,7 | 0 | 1 | 1 |
TOTAL | 10 | 49 | 59 |
Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região , 1995 .
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