Segunda Parte do Trabalho:
ANÁLISE DA FUNÇÃO AUDITIVA DE TRABALHADORES EM
INDÚSTRIAS DE PAPEL E PAPELÃO DE SOROCABA E REGIÃO.
Autores
Roberto Carlos Ruiz
Mareci Moreira
Melissa Mascharetti
Midori Maria Izumida de Almeida
Sandra Petresco
Viviane Ruiz
A tabela anterior nos mostra que do total de 59 ( 100% ) de exames
realizados,21 (35,5%) destes não apresenta nenhuma
alteração auditiva , enquanto outros 4 (6,7%) trabalhadores
apresentam perda auditiva que não por ruído , e um total de
34 ( 57,6%) apresenta algum tipo de perda auditiva relacionada a
exposição a ruído.
Podemos refinar o dado anterior , separando-os segundo o sexo .
Verifica-se que do total de 59 ( 100%) trabalhadores 10 ( 17%) são
do sexo feminino , enquanto 49 ( 83%) são do sexo masculino .
Nota-se assim que a grande maioria dos trabalhadores que procuraram
realizar a audiometria são homens .
Analisando os dados separadamente por sexo , verifica-se que do total
das mulheres , a maioria delas ( 70%) apresenta resultados de exames
normais , sendo que uma apresenta perda que não por ruído
( 10% ) e outras duas ( 20%) apresentam a PAIR .
Se analisarmos os homens , veremos que a situação é
dramática . Do total de 49 ( 100%) casos de audiometrias realizadas
em trabalhadores do sexo masculino , apenas 14 (28,5% ) são
completamente normais , enquanto outros 3 ( 6,1% ) tem perdas auditivas
que não são compatíveis com exposição
ao ruído , e um total de 32 ( 65,4%) trabalhadores tem algum tipo
de alteração auditiva que pode ser relacionada com a
exposição a níveis excessivos de ruído .
A tabela III nos traz a informação dos locais de trabalho de
onde são provenientes os trabalhadores que realizaram a audiometria .
Embora haja uma diversidade de nomes no que toca aos locais de trabalho ,
nota-se claramente que na sua maior parte exercem suas
funções no setor de produção .
Apesar da informação ser colhida por uma fonoaudióloga,
4 trabalhadores não sabiam referir o nome do setor que trabalhavam .
Tab. III Distribuição dos trabalhadores que realizam audiometria
segundo o setor de trabalho
SETOR | FREQÜÊNCIA | PERCENTAGEM |
ACABAMENTO | 11 | 20.0% |
ADENSADOR | 1 | 1.8% |
APARAS | 1 | 1.8% |
CALDEIRA | 3 | 5.5% |
CELULOSE | 4 | 7.3% |
COMPRESSOR | 1 | 1.8% |
ELÉTRICA | 4 | 7.3% |
LUBRIFICADOR | 1 | 1.8% |
MANUTENÇÃO | 2 | 3.6% |
MÁQUINA | 1 | 1.8% |
MÁQUINA PAPEL | 2 | 3.6% |
MONTAGEM | 3 | 5.5% |
PBO | 1 | 1.8% |
PERFURAÇÃO | 1 | 1.8% |
PICADOR | 2 | 3.6% |
PREPARAÇÃO | 1 | 1.8% |
PREP. MASSAS | 1 | 1.8% |
PRODUÇÃO | 13 | 23.6% |
TRAT. ÁGUA | 1 | 1.8% |
VISCOSE | 1 | 1.8% |
TOTAL | 55 | 100.0% |
Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região , 1995 .
A tabela IV nos mostra a freqüência com que os trabalhadores
usam o E.P.I. ( Equipamento de Proteção Individual ) ,
e qual o tipo de E.P.I. usado .
Tab. IV Tipos de EPI usados entre trabalhadores
que realizaram audiometria.
TIPOS DE EPI | FREQ. | PERCENT. |
NENHUM | 28 | 47.5% |
CONCHA | 5 | 8.4% |
PLUG | 26 | 44.1% |
TOTAL | 59 | 100.0% |
Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região , 1995.
Nota-se que 28 ( 47,5% ) trabalhadores que realizaram a audiometria
não faziam uso de E.P.I. , enquanto 31 ( 52,5% ) usavam , seja
tipo concha ( o menos comum ) ou plug ( mais comum ) .
DISCUSSÃO
A primeira questão que gostaríamos de discutir , é se
este estudo tem alguma validade dado o tamanho da amostra .
Em um universo total de 1500 trabalhadores , apenas 59 procuraram o
Sindicato para realizar as audiometrias . Portanto , o registro de 34
( 57,6% ) destes trabalhadores com alterações na audiometria
relacionadas a exposição a ruído intenso teria algum
significado?
Para entender melhor este questionamento colocado , gostaria de refletir
um pouco sobre o significado dos números em epidemiologia , usando
para isto o modelo do comportamento da doença chamada
Varíola .
Esta , foi uma doença que trouxe sérias
conseqüências a humanidade , sendo que por vezes, chegou a
dizimar grande parte dos habitantes de determinadas regiões .
Atualmente entretanto , a ciência deu resposta a este mal que tanto
afligiu a raça humana , e desde 1979, não há registro
de nenhum caso novo de Varíola no mundo , e a doença foi
considerada extinta. Entretanto , se neste mundo de quase 6.000.000.000
de habitantes , ocorrer um caso de Varíola , este caso é
considerado EPIDEMIA .
Voltando então a discussão do nosso tema , pergunto o
seguinte : se existe uma legislação que garante que
não deve haver nenhum caso de surdez ocupacional , quantos casos
esperaríamos nas instalações industrias de nosso
país ? Acredito que o esperado é zero casos . Assim , de um
total de 59 casos examinados , encontrarmos 57,6% é no mínimo
um dado que deva causar constrangimento aos órgãos
públicos responsáveis pela fiscalização da
saúde e segurança no trabalho , assim como dos atuais
Serviços Especializados de Engenharia , Segurança e
Medicina do Trabalho das empresas .
Outro dado que gostaríamos de discutir , é quanto a
relevância de trabalhadores afetados do sexo masculino . A que se deve
isto ? Certamente que é devida a maior exposição do
homem a locais de trabalho onde há ruídos de maior magnitude . Colocando nossa criatividade para funcionar , pode-se imaginar que se existe ruído de tal intensidade nestes ambientes de trabalho , deve existir também a presença de outros riscos , tornando assim o ambiente de trabalho na sua globalidade bastante desfavorável ao exercício de um trabalho saudável e prazeiroso ( ou será que o trabalho não deve trazer prazer ao ser humano ? ) .
Com relação ao uso de Equipamento de Proteção
Individual , vemos que metade dos trabalhadores não usavam , embora
expostos ao ruído ( este dado de exposição ao
ruído foi fornecido pelo próprio trabalhador , não
sendo realizada medições nos locais de trabalho ) .
CONCLUSÕES
Na introdução deste trabalho , fizemos questão de
lembrar que há uma norma específica para tratar sobre
ruído industrial e seus efeitos sobre a saúde dos
trabalhadores . Teoricamente , esta norma deveria dar resposta para a
anulação do efeito deste agente agressivo a saúde ,
não permitindo que a saúde humana fosse afetada , mas como
já foi comentado e pode ser constatado pelos profissionais da
área , existem ainda um contigente razoável de trabalhadores
que são portadores de PAIR .
Para nós , fica claro que a superação desta
situação prejudicial a saúde dos trabalhadores ,
só poderá acontecer com um diálogo franco e aberto ,
e sobretudo , que se queira efetivamente realizar mudanças que
visem livrar o trabalho de riscos nocivos ao ser humano .
Para tanto , nos parece que é extremamente oportuno , colocar em
discussão dois fatores fundamentais , que são os seguintes :
a) Implantação de Programas de Conservação
Auditiva ( PCA ) em todas as unidades fabris que tem ruído acima
dos limites toleráveis para a saúde do ser humano normal
b) Efetivar um processo eficiente de estudos de engenharia industrial no
sentido de eliminar o ruído dentro dos locais de trabalho .
Concluímos ainda , que manter o discurso de que as empresas
não tem mais nada a fazer porque fornecem os protetores auriculares ,
demonstra que não há compromisso destas postura com a real
manutenção da saúde dos trabalhadores , uma vez que
já foi demonstrado , e este trabalho confirma , que o uso do EPI
nas condições reais que temos hoje não neutraliza o
efeito prejudicial do ruído sobre a saúde humana .
Bibliografia
1 . COSTA V H C . O ruído e suas inferências na saúde e no trabalho . São Paulo , DIESAT . 1991 .
2 . KITAMURA , S & COSTA , E A . Órgãos dos Sentidos : Audição . In Mendes ,R. Patologia do Trabalho . 1a. ed Rio de Janeiro . Atheneu .p. 365-387 . 1995.
3 . SANTOS ,U P & MATOS M P & OKAMOTO V A & MORATA T C . Ruído : riscos e prevenção . São Paulo , HUCITEC . 1994 .
4 . PROGRAMA DE SAÚDE DO TRABALHADOR DA ZONA NORTE. Norma Técnica sobre o Diagnóstico da Perda Auditiva Induzida por Ruído e a Redução e controle do ruído nos ambientes e postos de trabalho . São Paulo . 1994 .
5 . RIBEIRO , H.P.; LACAZ , F.A.C. - De que adoecem e morrem os trabalhadores . Imprensa Oficial do Estado , São Paulo , 1984, p .47, 50-2.
6 . SANTOS T M M & RUSSO I C P . Audiologia Clínica . São Paulo , Cortez . 1986. P.51-56 .
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