Home Page do Jorge Reis

Espaço dos Colegas


Segunda Parte do Trabalho:
ANÁLISE DA FUNÇÃO AUDITIVA DE TRABALHADORES EM INDÚSTRIAS DE PAPEL E PAPELÃO DE SOROCABA E REGIÃO.


Autores
Roberto Carlos Ruiz
Mareci Moreira
Melissa Mascharetti
Midori Maria Izumida de Almeida
Sandra Petresco
Viviane Ruiz




A tabela anterior nos mostra que do total de 59 ( 100% ) de exames realizados,21 (35,5%) destes não apresenta nenhuma alteração auditiva , enquanto outros 4 (6,7%) trabalhadores apresentam perda auditiva que não por ruído , e um total de 34 ( 57,6%) apresenta algum tipo de perda auditiva relacionada a exposição a ruído. Podemos refinar o dado anterior , separando-os segundo o sexo . Verifica-se que do total de 59 ( 100%) trabalhadores 10 ( 17%) são do sexo feminino , enquanto 49 ( 83%) são do sexo masculino . Nota-se assim que a grande maioria dos trabalhadores que procuraram realizar a audiometria são homens . Analisando os dados separadamente por sexo , verifica-se que do total das mulheres , a maioria delas ( 70%) apresenta resultados de exames normais , sendo que uma apresenta perda que não por ruído ( 10% ) e outras duas ( 20%) apresentam a PAIR . Se analisarmos os homens , veremos que a situação é dramática . Do total de 49 ( 100%) casos de audiometrias realizadas em trabalhadores do sexo masculino , apenas 14 (28,5% ) são completamente normais , enquanto outros 3 ( 6,1% ) tem perdas auditivas que não são compatíveis com exposição ao ruído , e um total de 32 ( 65,4%) trabalhadores tem algum tipo de alteração auditiva que pode ser relacionada com a exposição a níveis excessivos de ruído . A tabela III nos traz a informação dos locais de trabalho de onde são provenientes os trabalhadores que realizaram a audiometria . Embora haja uma diversidade de nomes no que toca aos locais de trabalho , nota-se claramente que na sua maior parte exercem suas funções no setor de produção . Apesar da informação ser colhida por uma fonoaudióloga, 4 trabalhadores não sabiam referir o nome do setor que trabalhavam .

Tab. III Distribuição dos trabalhadores que realizam audiometria segundo o setor de trabalho


SETORFREQÜÊNCIAPERCENTAGEM
ACABAMENTO 11 20.0%
ADENSADOR 1 1.8%
APARAS 1 1.8%
CALDEIRA 3 5.5%
CELULOSE 4 7.3%
COMPRESSOR 1 1.8%
ELÉTRICA 4 7.3%
LUBRIFICADOR 1 1.8%
MANUTENÇÃO 2 3.6%
MÁQUINA 1 1.8%
MÁQUINA PAPEL 2 3.6%
MONTAGEM 3 5.5%
PBO 1 1.8%
PERFURAÇÃO 1 1.8%
PICADOR 2 3.6%
PREPARAÇÃO 1 1.8%
PREP. MASSAS 1 1.8%
PRODUÇÃO 13 23.6%
TRAT. ÁGUA 1 1.8%
VISCOSE 1 1.8%
TOTAL 55 100.0%
Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região , 1995 .

A tabela IV nos mostra a freqüência com que os trabalhadores usam o E.P.I. ( Equipamento de Proteção Individual ) , e qual o tipo de E.P.I. usado .


Tab. IV Tipos de EPI usados entre trabalhadores que realizaram audiometria.

TIPOS DE EPIFREQ.PERCENT.
NENHUM2847.5%
CONCHA58.4%
PLUG2644.1%
TOTAL59100.0%

Fonte : Núcleo de Educação e Saúde dos Trabalhadores de Sorocaba e região , 1995.

Nota-se que 28 ( 47,5% ) trabalhadores que realizaram a audiometria não faziam uso de E.P.I. , enquanto 31 ( 52,5% ) usavam , seja tipo concha ( o menos comum ) ou plug ( mais comum ) .


DISCUSSÃO


A primeira questão que gostaríamos de discutir , é se este estudo tem alguma validade dado o tamanho da amostra . Em um universo total de 1500 trabalhadores , apenas 59 procuraram o Sindicato para realizar as audiometrias . Portanto , o registro de 34 ( 57,6% ) destes trabalhadores com alterações na audiometria relacionadas a exposição a ruído intenso teria algum significado? Para entender melhor este questionamento colocado , gostaria de refletir um pouco sobre o significado dos números em epidemiologia , usando para isto o modelo do comportamento da doença chamada Varíola . Esta , foi uma doença que trouxe sérias conseqüências a humanidade , sendo que por vezes, chegou a dizimar grande parte dos habitantes de determinadas regiões . Atualmente entretanto , a ciência deu resposta a este mal que tanto afligiu a raça humana , e desde 1979, não há registro de nenhum caso novo de Varíola no mundo , e a doença foi considerada extinta. Entretanto , se neste mundo de quase 6.000.000.000 de habitantes , ocorrer um caso de Varíola , este caso é considerado EPIDEMIA . Voltando então a discussão do nosso tema , pergunto o seguinte : se existe uma legislação que garante que não deve haver nenhum caso de surdez ocupacional , quantos casos esperaríamos nas instalações industrias de nosso país ? Acredito que o esperado é zero casos . Assim , de um total de 59 casos examinados , encontrarmos 57,6% é no mínimo um dado que deva causar constrangimento aos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização da saúde e segurança no trabalho , assim como dos atuais Serviços Especializados de Engenharia , Segurança e Medicina do Trabalho das empresas . Outro dado que gostaríamos de discutir , é quanto a relevância de trabalhadores afetados do sexo masculino . A que se deve isto ? Certamente que é devida a maior exposição do homem a locais de trabalho onde há ruídos de maior magnitude . Colocando nossa criatividade para funcionar , pode-se imaginar que se existe ruído de tal intensidade nestes ambientes de trabalho , deve existir também a presença de outros riscos , tornando assim o ambiente de trabalho na sua globalidade bastante desfavorável ao exercício de um trabalho saudável e prazeiroso ( ou será que o trabalho não deve trazer prazer ao ser humano ? ) . Com relação ao uso de Equipamento de Proteção Individual , vemos que metade dos trabalhadores não usavam , embora expostos ao ruído ( este dado de exposição ao ruído foi fornecido pelo próprio trabalhador , não sendo realizada medições nos locais de trabalho ) .


CONCLUSÕES


Na introdução deste trabalho , fizemos questão de lembrar que há uma norma específica para tratar sobre ruído industrial e seus efeitos sobre a saúde dos trabalhadores . Teoricamente , esta norma deveria dar resposta para a anulação do efeito deste agente agressivo a saúde , não permitindo que a saúde humana fosse afetada , mas como já foi comentado e pode ser constatado pelos profissionais da área , existem ainda um contigente razoável de trabalhadores que são portadores de PAIR . Para nós , fica claro que a superação desta situação prejudicial a saúde dos trabalhadores , só poderá acontecer com um diálogo franco e aberto , e sobretudo , que se queira efetivamente realizar mudanças que visem livrar o trabalho de riscos nocivos ao ser humano . Para tanto , nos parece que é extremamente oportuno , colocar em discussão dois fatores fundamentais , que são os seguintes :
a) Implantação de Programas de Conservação Auditiva ( PCA ) em todas as unidades fabris que tem ruído acima dos limites toleráveis para a saúde do ser humano normal
b) Efetivar um processo eficiente de estudos de engenharia industrial no sentido de eliminar o ruído dentro dos locais de trabalho .
Concluímos ainda , que manter o discurso de que as empresas não tem mais nada a fazer porque fornecem os protetores auriculares , demonstra que não há compromisso destas postura com a real manutenção da saúde dos trabalhadores , uma vez que já foi demonstrado , e este trabalho confirma , que o uso do EPI nas condições reais que temos hoje não neutraliza o efeito prejudicial do ruído sobre a saúde humana .


Bibliografia
1 . COSTA V H C . O ruído e suas inferências na saúde e no trabalho . São Paulo , DIESAT . 1991 .
2 . KITAMURA , S & COSTA , E A . Órgãos dos Sentidos : Audição . In Mendes ,R. Patologia do Trabalho . 1a. ed Rio de Janeiro . Atheneu .p. 365-387 . 1995.
3 . SANTOS ,U P & MATOS M P & OKAMOTO V A & MORATA T C . Ruído : riscos e prevenção . São Paulo , HUCITEC . 1994 .
4 . PROGRAMA DE SAÚDE DO TRABALHADOR DA ZONA NORTE. Norma Técnica sobre o Diagnóstico da Perda Auditiva Induzida por Ruído e a Redução e controle do ruído nos ambientes e postos de trabalho . São Paulo . 1994 .
5 . RIBEIRO , H.P.; LACAZ , F.A.C. - De que adoecem e morrem os trabalhadores . Imprensa Oficial do Estado , São Paulo , 1984, p .47, 50-2.
6 . SANTOS T M M & RUSSO I C P . Audiologia Clínica . São Paulo , Cortez . 1986. P.51-56 .
Volta à Primeira Parte